domingo, 28 de fevereiro de 2010

A menina que roubava livros

"Ela simplesmente já não se importava.
Durante muito tempo, ficou sentada e viu.
Ela vira seu irmão morrer com um olho aberto, o outro ainda no sonho. Dissera adeus à mãe e imaginara sua espera solitária de um trem, de volta para o limbo. Uma mulher de arame tinha-se deitado no chão, com seu grito percorrendo a rua, até cair de lado, como uma moeda rolada que houvesse perdido o impulso. Um rapaz pendera de uma corda feita das neves de Stalingrado. Ela vira um piloto de bombardeiro morrer numa caixa de metal. Vira um homem judeu, que por duas vezes lhe dera as mais belas páginas de sua vida, ser forçado a marchar para um campo de concentração. E, no centro de tudo, viu o Führer berrando suas palavras e passando-as adiante.
Essas imagens eram o mundo, que cozinhavam em fogo brando dentro dela, sentada ali com os livros encantadores e seus títulos manicurados. Fermentavam dentro dela, enquanto a menina olhava as páginas, com suas panças cheias até o gorgomilo de parágrafos e palavras.
Seus cretinos.
Seus cretinos encantadores.
Não me façam feliz. Por favor, não me saciem nem me deixem pensar que alguma coisa boa pode sair disso. Olhem para meus machucados. Olhem para este arranhão. Estão vendo o arranhão dentro de mim? Estão vendo ele crescer bem diante dos seus olhos, me corroendo? Não quero ter esperança de mais nada. Não quero rezar para que Max esteja vivo e em segurança. Nem Alex Steiner.
Porque o mundo não os merece."

Nenhum comentário:

Postar um comentário