terça-feira, 31 de maio de 2011

Caio Fernando Abreu

“Querida mãe, querido pai,

Não sei mais conviver com as pessoas. Tenho medo de uma casa cheia de pais e mães e irmãos e sobrinhos e cunhados e cunhadas. Tenho vivido tão só durante tantos – quase 40 – anos. Devo estar acostumado.

Dormir 24 horas foi a maneira mais delicada que encontrei de não perturbar o equilíbrio de vocês – que é muito delicado. E também de não perturbar o meu próprio equilíbrio – que é tão ou mais delicado.
Estou me transformando aos poucos num ser humano meio viciado em solidão. E que só sabe escrever. Não sei mais falar, abraçar, dar beijos, dizer coisas aparentemente simples como "eu gosto de você". Gosto de mim. Acho que é o destino dos escritores. E tenho pensado que, mais do que qualquer outra coisa, sou um escritor. Uma pessoa que escreve sobre a vida – como quem olha de uma janela – mas não consegue vivê-la.

Amo vocês como quem escreve para uma ficção: sem conseguir dizer nem mostrar isso. O que sobra é o áspero do gesto, a secura da palavra. Por trás disso, há muito amor. Amor louco – todas as pessoas são loucas, inclusive nós; amor encabulado – nós, da fronteira com a Argentina, somos especialmente encabulados. Mas amor de verdade. Perdoem o silêncio, o sono, a rispidez, a solidão. Está ficando tarde, e eu tenho medo de ter desaprendido o jeito. É muito difícil ficar adulto.


Amo vocês, seu filho,
Caio”
Eu queria pegar o seu coração pra mim e guardá-lo numa caixinha. E eu cuidaria dele como se ele fosse o meu, e não deixaria ninguém te machucar. Porque a sua dor, de certa forma, dói em mim também.

Algumas pessoas são contra o casamento entre pessoas do mesmo sexo. Eu sou contra um único tipo de casamento: aquele que não tem amor.

Se tem homem que pensa que mulher é que nem troféu, que faz lista de quantas pegou e que acha que o que importa é a quantidade, é porque também tem mulher que fica com esse tipo de cara. O que tá faltando é homem que valorize a mulher e mulher que se valorize.

Primeiro você tem que provar do que é ruim pra depois poder dar o valor certo ao que é bom.

O “eu te amomais bonito e verdadeiro é aquele que você diz sem esperar uma resposta, aquele que você diz porque o amor simplesmente não cabia mais dentro de você.

Se for pra mudar, que seja então pela única pessoa que vale a pena: você mesma.

É óbvio que não é justo você chorar e sofrer por um cara. Mas e aquele cara que chora e sofre por você?

Uma dica: chamar ela de “minha” o tempo todo não vai fazer com que ela seja mais ou menos sua. Você tem que fazer ela não querer ser de mais ninguém, entende?

Um dia, garota, você vai conhecer um cara. Não, não, você vai conhecer o cara. E esse cara vai te fazer sentir feliz e te fazer agradecer por todos aqueles outros caras idiotas terem terminado com você.

Você diz que não quer mais lembrar, mas se tivesse um botãozinho de “esquecer” dentro de você, você esqueceria? Esqueceria como ele ri quando você fica com ciúmes, aquela cicatriz que ele tem embaixo do queixo, aquele olhar malicioso que ele te dá e aquelas covinhas no sorriso… Esqueceria? Duvido muito.

Ela diz que se sente ótima, que nunca esteve melhor, mas já se esqueceu da sensação de dar um sorriso que não seja forçado. Um abraço de quem você ama é o remédio que cura qualquer dor, mas não tem pra vender na farmácia, infelizmente.

Eu escrevo aqui gritando, mas não existe ninguém com um ouvido tão bom pra me ouvir, e com a cabeça tão boa pra me entender.

Garota, se ele não quis ficar com você não foi por que você é feia ou engordou. Pare de se olhar no espelho duzentas e quarenta e cinco vezes procurando defeitos em si mesma, pare de passar a noite em claro pensando no que fez de errado pra ele não te querer. Você só não fez o tipo dele. Siga em frente. Ninguém te contou que homem é que nem biscoito? Vai um, mas vem dezoito.

Você me odeia? Então faz isso: Olha pro teto. Depois olha pro chão. Esse é o tamanho do meu “foda-se” pra você.


Vinícius Kretek

Caio Fernando Abreu

"E uma compulsão horrível de quebrar imediatamente qualquer relação bonita que mal comece a acontecer. Destruir antes que cresça. Com requintes, com sofreguidão, com textos que me vêm prontos e faces que se sobrepõem às outras. Para que não me firam, minto. E tomo a providência cuidadosa de eu mesmo me ferir, sem prestar atenção se estou ferindo o outro também. Não queria fazer mal a você. Não queria que você chorasse. Não queria cobrar absolutamente nada. Por que o Zen de repente escapa e se transforma em Sem? Sem que se consiga controlar."

segunda-feira, 30 de maio de 2011

Carlos Drumond de Andrade

Definitivo...
Definitivo, como tudo o que é simples. Nossa dor não advém das coisas vividas
mas, das coisas que foram sonhadas e não se cumpriram.
Sofremos por quê? Porque automaticamente esquecemos o que foi desfrutado e passamos a sofrer pelas nossas projeções irrealizadas, por todas as cidades que gostaríamos de ter conhecido ao lado do nosso amor e não conhecemos, por todos os filhos que gostaríamos de ter tido junto e não tivemos, por todos os shows e livros e silêncios que gostaríamos de ter compartilhado e não compartilhamos. Por todos os beijos cancelados, pela eternidade. Sofremos não porque nosso trabalho é desgastante e paga pouco, mas por todas as horas livres que deixamos de ter para ir ao cinema para conversar com um amigo, para nadar, para namorar. Sofremos não porque nossa mãe é impaciente conosco, mas por todos os momentos em que poderíamos estar confidenciando a ela nossas mais profundas angústias se ela estivesse interessada em nos compreender. Sofremos não porque nosso time perdeu, mas pela euforia sufocada. Sofremos não porque envelhecemos, mas porque o futuro está sendo confiscado de nós, impedindo assim que mil aventuras nos aconteçam, todas aquelas com as quais sonhamos e nunca chegamos a experimentar. Por que sofremos tanto por amor?
O certo seria a gente não sofrer, apenas agradecer por termos conhecido uma
pessoa tão bacana, que gerou em nós um sentimento intenso e que nos fez companhia por um tempo razoável, um tempo feliz. Como aliviar a dor do que não foi vivido? A resposta é simples como um verso. Se iludindo menos e vivendo mais!!! A cada dia que vivo, mais me convenço de que o desperdício da vida está no amor que não damos, nas forças que não usamos, na prudência egoísta que nada arrisca, e que, esquivando-se do sofrimento, perdemos também a felicidade.
A dor é inevitável.
O sofrimento é opcional...

quarta-feira, 18 de maio de 2011

Tati Bernardi

Dá vontade de mandar meia dúzia de gente tomar no cu e correr pra casa chorando, se trancar no quarto pra tomar um toddy e jogar playstation até ficar vesga. Isso de escolher qual cara eu vou vestir hoje fode com tudo. Sempre. É, eu confesso que não é exatamente a realidade que eu esperava encontrar. Talvez isso mude. Ou talvez você mude. Ou EU mude. Eu tenho medo de acreditar em você, de te desejar tanto tanto e acabar descobrindo que eu ainda tenho um coração e que ele ainda pode amar muito alguém. Não, eu digo a mim mesma, eu não vou me apaixonar e nem desejar saber tudo ao seu respeito, querer conhecer sua mãe e ser apresentada aos seus amigos.Você não sabe, mas quando eu chego em casa eu repasso cada palavra que você disse, cada gesto que você fez, cada beijo seu e me pergunto se vale mesmo a pena. Você é uma pessoa gentil, simpática e diz todas as coisas que deveria, pena que você não sabe que esse é seu maior problema. Minha vontade agora é sumir. Chamar você. Me esconder. Ir até a sua casa e te beijar e dizer que te amo e que você é importante demais na minha vida para eu te abandonar. Sacudir você e dizer que você é um otário porque está me perdendo dessa maneira. Minha vontade é esquecer você. Apagar você da minha vida. Lembrar de você a cada manhã. Pensar em você para dormir melhor. Imaginar nossa vida juntos, naquela casa bonita com cachorros e com a sua filha correndo pela sala. Então eu percebo: IT'S ME, e minhas vontades são bipolares demais. Só o que não é bipolar demais é a minha ganancia por te ter. Sim, eu escolheria você. Se me dessem um último pedido, eu escolheria você. Se a vida acabasse hoje ou daqui mil anos, eu escolheria você! e como dizem: Amor platônico é o mais verdadeiro e bonito de todos, pois amamos sem pedir nada em troca. Amamos mesmo sabendo que o outro nunca nos amará , amamos apenas. Amamos, nos apoiamos, abraçamos de corpo e alma, e quase sempre ficamos sem. E sabe? Aquele seu abraço nos dias de chuva era o lado bom da vida, mas para valorizá-lo eu precisava viver poxa.
E que irônico: pra viver eu precisava perdê- lo. Rá, dá vontade mesmo de mandar meia dúzia de gente tomar no cu e correr pra casa chorando.. ódio. será qe é tão dificil? raios! Mas tá, que tal não desistir agora? Que tal ter esperança? Mesmo a vida sendo um saco, eu não quero morrer. Isso me lembra que mesmo você sendo um saco, tudo o que eu queria era que você estivesse aqui.

Tati Bernardi

Ontem depois que você foi embora confesso que fiquei triste como sempre.
Mas, pela primeira vez, triste por você. Fico me perguntando que outra mulher ouviria os maiores absurdos como eu, e, ainda assim, não deixaria de olhar pra você e ver um homem maravilhoso.
Que outra mulher te veria além da sua casca? Você não entende que está perdendo o paladar para o que a vida tem de verdadeiro e bom. É tanta comida estragada, plastificada e sem sal, que você está perdendo o paladar para mulheres como eu. E você não sabe como vale a pena gostar de alguém e acordar ao lado dessa pessoa, ouvindo ela respirar quietinha enquanto dorme, linda. E quando você dorme quietinho assim, eu sei que, apesar de eu não abalar sua vida em nada, você precisa de mim.
Você não sabe como isso é infinitamente melhor do que acordar com essa ressaca de coisas erradas e vazias. Ou sozinho e desesperado pra que algum amigo reafirme que o seu dia valerá a pena. Ou com alguma garotinha boba que vai namorar sua casca. A casca que você também odeia e usa justamente para testar as pessoas "quem gostar de mim não serve pra mim".
E eu tenho vontade de segurar seu rosto e ordenar que você seja esperto e jamais me perca e seja feliz. E entenda que temos tudo o que duas pessoas precisam para ser feliz. A gente dá muitas risadas juntos. A gente admira o outro desde o dedinho do pé até onde cada um chegou sozinho. A gente acha que o mundo está maluco e sonha com sonos jamais despertados antes do meio-dia. A gente tem certeza de que nenhum perfume do mundo é melhor do que a nuca do outro no final do dia. A gente se reconheceu de longa data quando se viu pela primeira vez na vida.
E você me olha com essa carinha banal de "me espera só mais um pouquinho".
Querendo me congelar enquanto você confere pela centésima vez se não tem mesmo nenhuma mulher melhor do que eu. E sempre volta.
Volta porque pode até ter uma coxa mais dura. Pode até ter uma conta bancária mais recheada. Pode até ter alguma descolada que te deixe instigado. Mas não tem nenhuma melhor do que eu. Não tem.
Porque, quando você está com medo da vida, é na minha mania de rir de tudo que você encontra forças. E, quando você está rindo de tudo, é na minha neurose que encontra um pouco de chão. E, quando precisa se sentir especial e amado, é pra mim que você liga. E, quando está longe de casa gosta de ouvir minha voz pra se sentir perto de você. E, quando pensa em alguém em algum momento de solidão, seja para chorar ou para ter algum pensamento mais safado, é em mim que você pensa. Eu sei de tudo. E eu passei os últimos anos escrevendo sobre como você era especial e como eu te amava e isso e aquilo. Mas chega disso.
Caiu finalmente a minha ficha do quanto você é, tão e somente, um cara burro. E do quanto você jamais vai encontrar uma mulher que nem eu nesses lugares deprê em que procura. E do quanto a sua felicidade sem mim deve ser pouca pra você viver reafirmando o quanto é feliz sem mim e principalmente viver reafirmando isso pra mim. Sabe o quê? Eu vou para a cama todo dia com 5 livros e uma saudade imensa de você. Ao invés de estar por aí caçando qualquer mala na rua pra te esquecer ou para me esquecer. Porque eu me banco sozinha e eu me banco com um coração. E não me sinto fraca ou boba ou perdendo meu tempo por causa disso. E eu malho todo dia igual a essas suas amiguinhas de quem você tanto gosta, mas tenho algo que certamente você não encontra nelas: assunto.
Bastante assunto. Eu não faço desfile de moda todos os segundos do meu dia porque me acho bonita sem precisar de chapinha, salto alto e peito de pomba.
Eu tenho pena das mulheres que correm o tempo todo atrás de se tornarem a melhor fruta de uma feira. Pra depois serem apalpadas e terem seus bagaços cuspidos. Também sou convidada para essas festinhas com gente "wanna be" que você adora. Mas eu já sou alguém e não preciso mais querer ser. E eu, finalmente, deixei de ter pena de mim por estar sem você e passei a ter pena de você por estar sem mim. Coitado.

sexta-feira, 6 de maio de 2011

Tati Bernardi

Talvez ser triste atraia muito mais olhares - como foi atraído o meu - do que simplesmente optar pelo não ligar, pelo nada fazer, pelo mandar se foder, literalmente. Eu nunca fui uma pessoa do, literalmente, foda-se. Sempre muito preocupada com todas as coisas que viriam de todas as coisas, sempre querendo entender os porquês de todos os tudos. Sempre no plural, nunca compacta.
Mas os anos passaram por mim nada sóbrios e não foram macios os dias no meu rosto. Eu não tive tempo de cantar alguma música do Caetano enquanto acordava embaixo dos caracóis do cabelo de ninguém. Tudo pra mim sempre foi muito mais "olhos nos olhos" e "o que me importa". Tão Chico e Marisa, tão doído que dava dó. Uma coisa.
Só que aí eu acabei mudando. E foi mudança aos poucos, porque até hoje me dou conta de coisas minhas que já não estão mais lá e, quem roubou, eu jamais vou saber. O sorriso mudou e a vontade de sorrir pra qualquer pessoa também, graças a Deus. Foi por sorrir tanto de graça que eu paguei tão caro por todas as coisas que me aconteceram.
Às vezes me pego olhando ao meu redor e vendo tanta menina parecida comigo. Tanto sentimento gritando de bocas caladas e escorrendo de peles secas. Tanta coisa acontece com a gente. Tanta gente passa pela gente, mas tão pouca gente realmente fica. E eu sei que, talvez, eu tivesse que ficar triste. Talvez eu tivesse que continuar secando lágrimas, abraçando o vento e rindo no vácuo, mas o fato é que eu não consigo. Eu não consigo mais ser triste só para mostrar que um dia eu fui - ou achei que tivesse sido - feliz.
Aprendi com os meus próprios erros que sofrer não torna mais poético, chorar não deixa mais aliviado e implorar não traz ninguém de volta. Aprendi também que por mais que você queria muito alguém, ninguém vale tanto a pena a ponto de você deixar de se querer.
Eu que gritei para tantas pessoas ficarem, hoje só quero mesmo é que elas sumam de uma vez por todas. E em silêncio, que é pra ninguém ter porque se lamentar.